Culturália existe e não um nada
- Culturália
- 4 de set. de 2020
- 3 min de leitura

Por Aline Portilho
Iniciar um novo projeto nos coloca sempre entre o fazer e não fazer. Pôr em marcha uma ideia é sempre uma opção, mesmo quando estamos extasiados o suficiente para achar que não. Entre a inércia e o movimento que produz a criação, há um milissegundo que poderia fazer ser tudo diferente. Ao lado de diversas outras criações, estaria lá aquele nada, caso assim se decidisse. (Gosto de frisar que haveria um nada e não o nada absoluto pois ao lado da nossa, existem diversas e múltiplas criações que ocupam seu lugar e garantem que coisas ricas e interessantes existam!) Essa inspiração surgiu enquanto lia um texto do Nestor Garcia-Canclini em que ele se perguntava “porque há a Literatura e não o nada?”. Enfim, há o Culturália e não um nada que tomaria seu lugar caso naquele dia de abril de 2020 nós não tivéssemos decidido que ele haveria de existir.
“Um espaço para celebrar o invento, a criatividade, a Cultura e as Artes.” É dessa forma que apresentamos Culturália em nosso perfil do Instagram, um importante canal de divulgação de nosso trabalho. Uma definição concisa, que abre porém uma multiplicidade robusta de caminhos a desvendar.
Quando decidimos fundar o Culturália e entendê-lo como um canal de produção e difusão de conteúdo sobre a cultura no Norte fluminense, já tínhamos bastante claro o que queríamos criar: um espaço de mediação e de trocas. Nosso desejo era construir um lugar para colocar em contato as diversas pessoas que fazem da cultura um bem a valorizar, seja como criador, seja como público. Um lugar de encontro que se torna muitas vezes um lugar de celebração. O poema do João Cabral de Melo Neto nos inspira muito a criar dessa forma:
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
(Tecendo a manhã - João Cabral de Melo Neto)
Está na nossa apresentação que “Culturália é um espaço para quem acredita na cultura como direito.” É por essa motivação que escrevemos textos e posts abordando a política cultural. Ela é o campo vasto e importante onde se produzem os instrumentos e insumos que possibilitam às pessoas fazer cultura. Nem sempre é um assunto celebrativo, pois há muito o que se combater para que as políticas culturais sejam implementadas e garantam de fato o acesso aos meios de criação e fruição da cultura pela população. Por meio da cultura podemos construir uma vida mais humanizada e mais respeitosa pelas diferentes formas de existir no mundo. Assim que afirmamos: “sem artes e diálogos, aproximações e resistências, a vida se torna mais árida do que deveria ser. Não à toa, Culturália nasce nesses tempos.”

E dessa forma, aos pouquinhos vamos construindo nosso trabalho. Em 1º de maio entramos no ar com a reportagem Resiliência, união e criatividade: instrumentos do trabalhador da cultura em Campos dos Goytacazes. Foi nosso primeiro contato com trabalhadoras e trabalhadores da cultura em Campos. Percebemos logo que nosso trabalho era ouvir: recolher com sensibilidade e cuidado as histórias que fazedoras e fazedores de cultura dividem conosco, colocá-las em uma narrativa bem trabalhada, cuidar do texto e da forma e apresentar ao público. Depois, passamos a realizar entrevistas, que abriram para nós novas possibilidades de troca de ideias. Convidamos também alguns parceiros para diálogos, que teceram com a gente essa manhã que estamos propondo. Dialogar e produzir foi a forma que desenvolvemos para celebrar o invento, as artes, a criatividade. Elaboramos neste tempo 22 conteúdos para o blog entre matérias, entrevistas, notícias, reportagens, textos de convidados e de opinião, além de diversas postagens no Instagram que são também formas de conteúdo. E vamos dessa forma não apenas produzindo conteúdo, mas também criando relações de parceria e afeto com diversos criadores da região Norte fluminense.
Dia após dia, vamos construindo nosso trabalho. Buscamos nos colocar junto aos fazedores e fazedoras de cultura do Norte fluminense para ajudar a tecer novas manhãs. E é desta forma que vamos produzindo o eterno existir de Culturália, que hoje ocupa o lugar do nada que poderia haver se naquele dia de abril, naquele milissegundo, nós não tivéssemos decidido fazê-lo existir. Fica o convite a quem nos quiser acompanhar para desfrutar o invento, as artes, a cultura do Norte fluminense que nos encanta e encoraja a produzir e a compartilhar.
BRAVA !!!!
Viva o Culturália!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!