Reuso Vivo: brechós não são “modinha”, mas uma forma de vida sustentável!
- Culturália
- 25 de nov. de 2020
- 3 min de leitura
A convidada da seção Diálogos desta semana é Mariana Nunes, que, entre outras atividades, comanda o Cereja Amarela Bazar Vintage. Aos 37 anos, a jornalista, fotógrafa, empreendedora, ativista e amante da poesia é também escritora nas horas vagas. Além de tudo isso, que não é pouco, sua atuação vai mais longe, sendo, em suas palavras, "ativista contra gordofobia e qualquer tipo de preconceito sobre o corpo, empreendedora, sempre na luta buscando inovações, sem medo de arriscar." Batalhadora, já sofreu com críticas que recebeu, mas hoje "pega todas elas e faz poesia e constrói caminhos." Mariana escreveu sobre os fazeres dos brechós e como eles podem ser peças fundamentais na promoção de uma vida mais sustentável. O tema é especialmente importante pelo o estímulo ao consumo consciente, que deve ser valorizado com a proximidade das festas de final de ano.

Por Mariana Nunes
Em nossa conturbada e violentamente rápida era contemporânea, todos temos enfrentado inúmeros desafios, dos quais já estamos cansados de falar. Perante eles muitos pequenos negócios têm ganhado espaço, por proverem sustento a seus donos e opções viáveis a seus consumidores. Pode ser que até já estejamos saturados de falar de alguns deles, mas tem um em particular que sinto que não ganha uma atenção equivalente à sua presença. Estou falando dos brechós.
As opções que trazem os brechós são muito importantes para toda nossa sociedade, porque nele contém, além de outras coisas, a moda viva. Um cenário do fashion onde o foco não é o capital acumulado em cima de glamour e tendências passageiras, mas a circulação de roupa que, se não fosse pelos brechós, permaneceriam entulhadas em armários, sem utilidade. Junto com isso vem a noção de que nenhuma peça “morre” ao deixar de estar na moda, e de que todas sempre têm validade para todos os tipos de estilo.
O brechó tem também a função de trazer a conscientização de que somos capazes de consumir pouco, de forma consciente, e apoiar uma economia mais solidária nesse meio, o qual é amplamente diverso e empenhado. Esse último vem do fato de que, além cada brechó fazer uma curadoria específica e trabalhar com peças exclusivas, todos se esforçam para desmistificar a ideia de que roupa de brechó tem energia ruim e/ou má qualidade.
A curadoria dos produtos também é um ponto super relevante de detalhar, porque, na maioria das vezes, os públicos não acompanham os bastidores dessa caminhada. O primeiro ponto no qual os proprietários e empreendedores de brechós seguem é o local para conseguir sua matéria-prima, muita das vezes escassa, correndo atrás de bazares de igreja, quintal da casa da dona Maria, ou até mesmo comprando de pessoas que querem desapegar pelo motivo que for. Esse processo, posso dizer por experiência pessoal, é difícil na maioria das vezes e se torna mais complicado, mas feito com amor nada é perdido.
O segundo passo é fazer a curadoria em si, sempre de forma bem minuciosa, verificando se as peças se encaixam no estilo do seu brechó (clientes) e se possui avarias, afinal as peças que você comercializa carregam seu nome. Em certos casos até mesmo efetuamos aquele conserto, fazendo bainhas, costurando, lavando, tentando tirar algumas manchinhas, ajeitando botões, entre outras mil coisas. Por fim as peças são expostas ou postadas em seu domínio e/ou brechó físico, conquistando assim seu maior objetivo, que é alcançar seus clientes e fazer circular essa moda viva!
Precisamos levar para todos a força do reuso, enaltecendo os brechós e a economia solidária. E são nesses brechós que vocês vão encontrar peças esperando para contar a sua história, na qual o que mais vale é conquistar o seu coração e fazer girar esse fashion, diminuindo assim o acúmulo do capitalismo das grandes empresas e revigorando um mundo sustentável.
O mais importante é destacar que toda peça tem a sua história, que nenhuma foi pega ou achada no meio do nada, seja uma blusa ou um brinco, todas têm um significado por detrás, algo que foi muito importante estar ali naquele brechó, que foi procurado e pesquisado pelos empreendedores com muito carinho e, na maioria das vezes, de forma peculiar. E que o objetivo final nunca foi só o capital/lucro e sim a satisfação de ver aquelas peças, que estavam paradas e sem uso, serem destinadas para novos clientes que irão usá-las e fazer valer essa circulação da moda viva e real!

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