Antonio Roberto Fernandes pelo olhar de seus filhos
- Culturália
- 29 de mai. de 2020
- 4 min de leitura
Poeta e pensador, autor e ator, escritor refinado e agitador cultural, Antonio Roberto Fernandes completaria 75 anos no próximo 31 de maio. Seu nome é incontornável para a memória cultural de Campos. Lembrá-lo é mostrar a espessura do tempo nos engenhos criativos da região. Não começamos ontem a fazer o hoje. Nem pararemos amanhã. Nossas práticas permanecerão pelo poder de transformar, não serão como "os pratos de vovó" liricamente poetizados por Antonio Roberto. Inaugurando a seção Diálogos do Culturália, os filhos Luciana, Raquel, Rafael e Humberto apresentam sua vida e obra.

Por Luciana, Raquel, Rafael e Humberto, filhos de Antonio Roberto Fernandes
Antonio Roberto Fernandes nasceu na cidade de São Fidélis, estado do Rio de Janeiro em 31 de maio de 1945. Primogênito de uma família de oito irmãos: Maria Lúcia, Humberto, Sérgio, Anleifer, Rosa Maria, Luiz Guilherme e Fernando. E filho de Djanira e Anleifer.
Aprendeu a ler em casa com o pai. Aos sete anos entrou na escola no interior, sempre se destacando por sua sensibilidade, sua visão de mundo e por seu amor à literatura. Estudou no Colégio Estadual Barão de Macaúbas e no Colégio Fidelense. Formou-se em contabilidade no ensino médio.
Tornou-se funcionário do Banco do Brasil e logo depois ingressou à Faculdade de Medicina de Campos, em Campos dos Goytacazes, onde fixou residência. Formou-se em 1975 embora tenha se aposentado como bancário em 1992. Apesar de não ter praticado a medicina convencional, nunca duvidou do poder curativo da poesia.
Poeta, trovador e escritor, Antonio Roberto Fernandes foi membro-fundador da Academia Fidelense de Letras, e membro da Academia Pedralva Letras e Artes, da Academia Campista de Letras e representante da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Campos. Fundou a Academia Infantil de Letras de São Fidélis. Grande idealizador do Festival de Poesia Falada de São Fidélis, do Café Literário em Campos e figura cativa dos eventos da Fundação Municipal Trianon, como o projeto Choro e Cia e o Grupo Boa Noite Amor.
O também radialista, como pessoa política, foi um grande ativista do desenvolvimento local e regional, lutando pela Ponte de Pureza e pela Festa da Lagosta em São Fidélis, e por políticas educacionais e culturais sustentáveis em Campos e na região. Exerceu diversas atividades públicas. Foi diretor da Biblioteca Municipal de São Fidélis, da Biblioteca Nilo Peçanha e diretor do departamento de Literatura da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL).
Pai da Luciana, da Raquel, do Rafael e do Humberto, foi casado com Naira, avô do Daniel e da Beatriz. “[...]sou quadro, a canção, a pátria livre / sou o remédio, o jarro, o monumento / [...] / eu prometo, papai, -eu que fui obra, / mas que hoje também sou um autor- / repassar aos meus frutos, redobrada, / a herança maior do seu amor.” (trecho do poema Dia dos Pais).
Influenciado pelos grandes nomes da literatura brasileira, como Machado de Assis, Castro Alves, José Mauro de Vasconcelos, Patativa do Assaré, Luís Gonzaga, A. A. de Assis, Adélia Prado, Cecília Meirelles, Vinícius de Moraes. Seu estilo parnasiano e bucólico torna sua obra de fácil leitura e compreensão. Um universo íntimo e ao mesmo tempo tão conhecido por todos.

Também foi músico, compositor e ator. Compôs marchinhas de carnaval e sambas enredo para a “Escola Unidos do Careca” e para o bloco “As Magnólias”, em São Fidélis. Participou de diversos festivais de música, de poesia, de teatro e de cinema, conquistando vários prêmios. Um deles junto a Paulinho Ciranda, pela canção “Amor Século XXI”. Atuou no monólogo “Lá” de Sérgio Jockyman. Foi diretor, ator e produtor de curtas como “O Passageiro da Alegria”. Escreveu e dirigiu a peça revolucionária para sua época “Profanos”; além de também atuar, junto de sua família, em suas obras, incluindo o famoso musical “Manacá”.
Deixou um legado de três livros publicados, “Poesia, doce Poesia”, “Substantivo

Abstrato”, “Os Pratos de Vovó” além de um póstumo, “Que não nos falte AR”, lançado em 2018. Deixou quatro peças teatrais escritas, incontáveis canções e poemas, além de inúmeras contribuições literárias, como artigos, notas em jornais locais e revistas e roteiros de recitais de poesia.
O poeta e escritor fidelense faleceu no dia 20 de novembro de 2008, na cidade de Campos dos Goytacazes. “Foi lá, foi lá, foi lá no Manacá, que eu nasci pra ser poeta e cantar”.
Seu livro póstumo está disponível para venda diretamente com a sua filha Raquel Fernandes, pelas redes sociais. Há um projeto da família para relançamento do seu maior sucesso, que é o livro, “Os Pratos da Vovó”, mas, ainda está em fase de captação de recursos.
OS PRATOS DE VOVÓ
[Antonio Roberto Fernandes]
A minha avó guardava, com alegria,
muitos pratos, lindíssimos, de louça
que ganhou de presente, quando moça,
e que esperava usar – quem sabe? – um dia.
Mas a vida passando tão insossa
e nada de importante acontecia
e ninguém pra jantar aparecia
que compensasse abrir o guarda-louça.
Vovó morreu. Dos pratos coloridos
que hoje estão quebrados e perdidos
ela jamais usou sequer um só.
Assim também meus sonhos, tão guardados,
terão, por nunca serem realizados,
o mesmo fim dos pratos de vovó.
A seção Diálogos apresenta conteúdo produzido por parceiros do Culturália. Com liberdade para produzir em diversos formatos e abordar os temas que achar pertinentes, nossos convidados trazem o ponto de vista diferente que enriquece as discussões. Se você deseja contribuir com produções para esse espaço, escreva para culturaliajornalismo@gmail.com.
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